Acile tem 7 anos.
Nesse momento está pescando as medusas que utilizará para dar um susto em todos aqueles que, amanhã, irão mergulhar na Praia Leste de Stastoqueria.
Acile adora fazer isso. Pula de um lado para outro em sua canoa, pisando no corpo todo do Mustafá, que, sendo dois metros de altura por um de gordura, nos barcos de pequeno tamanho, só pode ficar deitado para distribuir em forma equilibrada o seu peso devastante.
Mustafá é a babá de Acile, e tem uma ligação muito especial com a menina. Seria capaz de mudar a cor da pele se a criança o pedisse, mesmo adorando aquele roxo inexplicável que deixa sem fôlego todos os seus futuros amantes.
É mesmo, a pele do Mustafá é absolutamente roxa e ninguém sabe o porquê.
De fato, ninguém sabe nada sobre a babá, mas ela prometeu para a Acile que contará publicamente os acontecimentos dos seus primeiros 9 anos de vida, exatamente no dia do nono aniversario da pequena.
Na verdade, corre um rumor de que existe um lugar onde a história (a história inteira!), de Mustafá está custodiada. Esse lugar é a torre dos arquivos de Stastoqueria.
Por quê?
Bem, é útil, a esse propósito, dizer que Stastoqueria é um longuíssimo istmo que une dois países extremamente envolvidos em atividades comercias: não só entre eles, mas entre eles e todos os países vizinhos também. Isso torna o istmo um ponto de passagem muito importante e estratégico para vários tipos de negócios.
Mas Stastoqueria é um país independente e as fronteiras estão totalmente fechadas para quem não quiser pagar a taxa pedida pelo governo. Não se trata propriamente de dinheiro, mesmo que a prefeitura goste de chamá-la "taxa de luxo".
Concretamente: qualquer pessoa que passe para as fronteiras desse pequeno istmo, tem que deixar uma história, não importa que leve ela já escrita em papel ou que a conte no momento, centenas de escrivães trabalham lá para isso. Pagando essa "taxa", a pessoa adquire o direito a 15 permissões de entradas no país; uma vez esgotadas essas, ela terá que doar uma nova história para renovar os vistos de entrada.
É claro que, não podendo recusar de pagar, muita gente acredita que a forma mais rápida de contar uma história seja aquela de falar, para os escrivães, da própria vida. Um equivoco que todo mundo paga com a descoberta da própria vaidade ou... do talento para a narração (vale a pena mencionar, aqui, o caso do maior comerciante de falsa alpaca de todos os tempos, Calandrino de la Puna, que após ter experimentado a taxa de Stastoqueria, decidiu largar as suas frutíferas atividades para se tornar, com grande habilidade, o maior autor de falsas biografias de todos os tempos).
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